Tuesday, April 29, 2008

Semana sem compras II

Andava farto da minha vidinha de ditador bonzinho. Todos gostavam de mim e tal. Então, para me divertir um pouco, resolvi instaurar uma semana sem compras. Seria absolutamente proibido gastar dinheiro. Agora queria ver como as pessoas se iam safar.

Thursday, April 17, 2008

Semana sem compras

No ano de 2020, vivendo durante a ditadura de Jó Só Crates, "Sua Exa." para se divertir resolveu declarar a semana 10 do ano, a "Semana sem compras". Ao início ninguém percebeu muito bem o que era aquilo da "Semana sem compras", mas os jornais, ávidos de informação não sensurada trataram de nos explicar bem do que se tratava. Dizia a notícia assim:

"Sua Excelência, o Dr. Jó Só Crates, nosso merecidíssimo 1º ministro, por qualidade e sabedoria, teve o maior gosto em declarar que, para todo o sempre, a semana 10 de todos e cada ano, vai ser uma semana sem compras. Esta decisão foi tomada para salientar a sua política, muito acertada, devemos dizer, contra o consumismo absurdo e desenfreado que se viveu durante os anos de capitalismo neste país.
Nessa semana, toda e qualquer pessoa, à excepção, claro, de sua excelência e seus acessores, estará proibida de realizar qualquer tipo de compra. Com "qualquer tipo de compra" o nosso Primeiro quer dizer:
• Mini-mercados, Supermercados, Hipermercados e Mercados
• Tabacarias
• Transportes Públicos
• Jornais
• Serviços de qualquer género
• Outros
Aconselha-se as pessoas, portanto, a mentalizarem-se da certeza de uma semana por ano cheia de alegria e leveza nos seus trabalhos. Não se esqueçam de levar almoço de casa, pois os restaurantes e cantinas estarão fechados. Relativamente a qualquer outra falta, vão ter de ter paciência e esperar penitente e alegremente pela semana seguinte."

Após esta notícia, os portugueses em peso foram aos supermercados abastecer-se de todas as provisões que conseguissem guardar em casa. Essa deveria ter sido chamada a semana sem trabalho. Nunca houve tantas desculpas para não trabalhar, quando se sabia exactamente o que as pessoas iriam fazer. Todos os estabelecimentos comerciais exibiam filas gigantes, até pareciam concorrer à maior fila de Portugal. As gasolineiras eram quem provocava maiores filas, ninguém queria ficar sem combustível durante uma semana. Esta foi uma semana bem mais complicada que a "Semana sem compras". Esta última, acabou por ser bem calma, na qual se ia à conversa e a pé para o trabalho. Pessoas que trabalhavam longe, praticamente iam picar o ponto, viam os emails e voltavam para casa. Viam-se bicicletas e motas em todas as ruas, todos procuraram bicicletas em suas casas, era mais rápido e menos cansativo que ir a pé. Os carros só apareceram no primeiro dia. Foi o primeiro dia aquele que maior absentismo teve, houve pessoas a chegar ao trabalho à hora de saída. O que nos valeu foi a boa disposição a que todos aderiram. Não havia pressas para o trabalho, nem estresses, nada. Felizmente, os patrões não penalizaram ninguém.

Quem se arrependeu largamente por ter tomado esta medida, foi o nosso Primeiro. As semanas seguintes foram para contabilizar o erro da semana anterior. Nunca a economia portuguesa esteve tão abalada como nos meses seguintes àquela "Semana sem compras". E assim, pela primeira vez, servimos de cobaias, porque muitas outras se seguiram, mas essas ficam para uma próxima história.

Thursday, April 10, 2008

A notícia apareceu de rajada na televisão ontem, a meio do filme que estava a ver. Eram 22.30. Começou o genérico dos noticiários especiais, apareceu a apresentadora, sem estar penteada, com um ar um pouco afogueado. Achei estranho, fez-me lembrar o início da Guerra do Golfo com o José Rodrigues dos Santos e aquele ar aflito de sobrancelha carregada. Neste noticiário o acontecimento relatado era o Estado de Sítio em que íamos entrar. Até ordens em contrário, não seriam permitidas quaisquer atitudes libertárias, seriam proibidos os ajuntamentos de mais de duas pessoas e ainda assim, estas teriam de ser familiares. Uma das restrições que impunham aos cidadãos, eram as compras. Seria absoutamente obrigatório entregar todo o dinheiro de que dispunhamos. Nesse sentido, teríamos todos de ficar em casa até alguma autoridade devidamente identificada aparecer para fazer a recolha dos valores monetários que existissem em casa. Desencorajavam grandemente qualquer atitude desrespeitadora deste pedido, essa resultaria na execução imediata de todos os seres vivos nessa casa. Após a entrega do dinheiro, e de manhã, deveriamos ir trabalhar, onde nos seriam dadas mais instruções.

continua