Monday, March 31, 2008

Um conto do passado (com pronúncia)

Ora oiçam(e)..
Ioje, boue falare acerca de nosse portuguale ne ane de 2108. E porcuê nuessa data em especiôle? Porcue fuoi um ane muite importuante relativamainte à poluítica do nuosso paíge.
Fuoi nessi’ane que deixuámes es trainta partides poluítiques, já conhuma tradiçõ(e) de 100 anes, e passuámes ao(e) deple partiduarisme, aquele pele quale nes regemes huoje.
Todes es partuides à escuerda se juntaran neum suó e todes es partuides à direita se juntaran, também, neum suó.
Foi um pouque complicuada esta transiçõ(e) impuosta pela Uniõ(e) Europêa a todes es países da Euruopa des 36. Ainda longe da Euruopa des 45 de huoje e talvez des 49 de ane que vem, se a entrada des países de Transnítria, Abecácia, Seboga e Ossétia do Sul acontecere.

Mas voltuande a 2108. Na altüra haviam 9 partides mais ou menes à escuerda e 8 partides mais ou menes à direita, es restantes 13 tiveran de escolhuer de que lade queriam ficuar. Conseguire que todes es líderes se juntassem e concordassem com um cabecilha por partuido, o Partuido da Escuerda Trabalhadora (PET) e o Partuido da Direita Trabalhaduora (PDT), foi muite complicade. Cheguou a assistir-se a pecuenas guerras de guerrilha. A PE – Poluícia Europueia teve de mandare reforces para portuguale para conseguire controluare es ânimes elevades que huouve. O nuosse Parlamuente tueve muitas alteraçõs. Passuou a viguorare o Sufrágie Unuiversale Europueu, aoe qual huouve fuortes contestaçõs. Ou sueja, quem quer que se inscrevuesse come eleitore universuale puoderia votuar em qualcuer paige da Euruopa, significande que portuguale iria ter es eleitores estrangeires que quisessen participuare activamuente na escuolha des nosses governantes. Tende só 2 partides, isse iria alterar muita coisa. Hoje sabemes que foi, sem dúvida alguma, a melhor opçõ(e).

Fuoi, portante, nesti´ano de 2108 que a Assembloia da Repüblica, que se localuiza na suidade de Lisbuoa, se transformuou nas ruínas que hoje vemes, através duma buomba posta. Por quem, nunca se descobrie.

E assim, mês cares amigues, espere ter contribuíde para o aumainte da vossa sabedoroia. Despece-me até à próximua.

Como a Carla ficou desempregada

Sexta-feira, 29 de Fevereiro de 2008.
Carla, levantou-se ensonada. Já era 6ª feira, que bom. Melhor ainda porque ia de ferias. As merecidas férias, depois de 6 meses de inferno naquela malfadada empresa.
Chegou cedinho porque tinha de despachar o trabalho, não queria ir de férias com trabalho por acabar.
Estava bem disposta, nas férias ia pensar bem acerca da sua vida. Os prós e os contras das decisões que tinha tomado nos últimos tempos. As últimas semanas das férias já estavam reservadas para não pensar em nada, a não ser na praia que ia ter à frente.
Ultimamente, os problemas no trabalho tinham diminuído, ela tinha decidido não ser tão reivindicativa. O que andava a correr mal acabaria por melhorar. Os colegas, no entanto, neste dia estavam estranhos. As 6ªs feiras normalmente são tão descontraídas. Há mais trabalho que o costume, mas com o fim de semana à porta, todos se animam.
Ao almoço, Carla foi tratar dos últimos pormenores para a viagem que aí vinha. Foi buscar o bilhete de avião à agência de viagens. Aproveitou para comprar um protector solar, o sol do equador é bem mais forte. Não demorou muito, não podia abusar na hora do almoço, senão teria um e-mail à sua espera quando chegasse a avisar que os horários de entrada eram para cumprir.
A tarde passou-se estranha mas célere já que ninguém falava com ela.
6.20 toca o telefone. Era o Patrão. Que será que ele queria? Estava quase na hora de se ir embora, será que nem no último dia antes de ir de férias a deixavam em paz? — pensava Carla enquanto se levantava para ir ter à sala dele.
Entrou na sala, ele disse-lhe para não fechar a porta e para se sentar. Estranho.
- Carla, começou o Patrão, deves estar a imaginar o que te vou falar.
Carla fez uma cara inquisidora. Dando a entender que não percebia onde ele queria chegar.
- Bom, como sabes, o nosso relacionamento desde que cá chegaste há 6 meses atrás, não tem sido o melhor.
Oh meu Deus, pensou Carla, será que ele não podia deixar esta conversa para depois das férias, preciso sair, ainda tenho coisas a tratar.
Mas Carla não foi capaz de dizer isto ao patrão. Ficou à espera do que ele tinha para dizer. Se demorasse muito então ela dizia-lhe qualquer coisa.
O Patrão continuou.
- Isto que eu te vou dizer custa-me muito. São decisões muito difíceis que quem está na minha posição tem de tomar, de vez em quando. É por isso que…
Nesta altura, o coração de Carla começou a bater muito forte no seu peito. Começou a tremer. Tentou não dar a entender que estava nervosa. O que era difícil, pois a sua respiração começou a ficar mais acelerada.
- Carla, vou dispensar-te do trabalho nesta empresa. Como o teu tempo de experiência acaba hoje, mais precisamente agora, não precisas voltar. Boas férias,— um sorriso cínico escapou-lhe da boca.
À Carla só lhe saiu um “obrigada” — a coisa que ela menos estava naquele momento, agradecida. A tremer, vira as costas ao ex-Patrão.
Nem direito ao subsídio de desemprego ia ter.

1Março2008

Tuesday, March 25, 2008

O primeiro dia

João, havia recebido a notícia há aproximadamente 7 meses. Na altura tinha ficado muito apreensivo e angustiado. Desde então a sua vida pouco tinha mudado. Foi uma promessa que João fez a si próprio. O dia a dia mantinha-se. De casa para o trabalho e do trabalho para casa.
A única alteração era a ida mensal ao médico, onde ia saber se estava tudo bem e se a evolução estava a ser a melhor para aquela situação. O dia que antecedia a ida à consulta era sempre o mais angustiante do mês. Será que iria haver uma notícia desagradável nessa consulta? Será que teria mais um mês de descanso?
A verdade é que, tudo tinha corrido sempre bem. Sempre que saía do consultório da médica, o seu alívio era notório e a sua face estava descontraída.
Mas hoje, sete meses depois da notícia, e por ser tão repentino, João está muito nervoso, extremamente nervoso, aliás. Algo dentro de si diz-lhe para estar alerta, vai acontecer alguma coisa de errado neste dia.
João encosta-se à parede exterior do hospital e fuma o 10º cigarro do dia. Treme de medo, ansiedade, nervos.
Absorto nos seus pensamentos, quase nem viu chegar a médica de bata branca. Mal se apercebe da sua presença o seu coração salta, estala dentro do seu peito.
Mas a médica vem com um sorriso nos lábios, e diz-lhe:
- Parabéns João, acabou de ser pai dum belo rapaz de 4 kg. Filho e mãe estão bem, se quiser pode ir vê-los.
Afinal tinha corrido tudo bem. Não havia razão para estar tão nervoso. Mas e agora? O que iria fazer? Seria este, como dizem, o dia mais feliz da sua vida? João entra, pela primeira vez no hospital, como pai. Vai conhecer o seu filho. Repentinamente, uma sensação de felicidade invade-lhe o peito. Respira fundo. Com um sorriso aberto entra no quarto. É, sem dúvida alguma, este, o dia mais feliz da sua vida.

A Terra come-nos as entranhas (escrita automática)

Ressurreição como oposto à morte e como oposto à vida. Qualquer coisa que poderá surgir do nada. Tudo se transforma, talvez a morte também, e porque não? 10 minutos é muito tempo. Para escrever é claro, para a ressurreição será muito talvez uns milésimos de segundos cheguem. Para a morte será porventura demais. Quanto mais rápido melhor. Pelo menos para quem a sofre. Sofre? Dói? Se for rápido talvez não doa. Mórbido, morbidez. 6 minutos. É difícil falar, escrever sem muito pensar sobre este tema. Não acredito na ressurreição, acredito na morte e que todos lá chegaremos um dia. Depois é o nada. O científico. A terra come-nos as entranhas, ou os bichos que lá vivem. Se formos queimados, ficamos em cinzas que se desfazem no ar e na terra para onde elas forem despejadas. A alma fica-se pela memória de quem cá fica. É a esses que dói. Dói que se farta. 8 minutos. Nascer, viver, morrer. Calha a todos. 10 minutos, ou quase. Nem olho para trás.

Thursday, March 13, 2008

Estado de Portugal, Março de 2108

"O meu TRAQUIGÁS (transformador químico de gás metano), mais conhecido entre amigos por “TRAQ”, avariou-se. Que chatice. Vou passar o dia cheio de cólicas. Sem o TRAQ, o sistema de aquecimento/arrefecimento dos fatos que vestimos não funciona, portanto vou passar frio. Pior, vou passar o dia a ver o olhar compadecido dos outros. Vou ter que ir a pé, porque não é permitido andar de transportes públicos sem o TRAQ. Tenho de mandar arranjá-lo urgentemente. Esperam-me dias difíceis até que o TRAQ esteja arranjado. Sem ele, o cheiro que exalamos com os nossos gazes, é tão nauseabundo que, em grandes concentrações, mata por intoxicação. É desta alimentação que fazemos. Devíamos voltar a lavrar a terra, em vez de consumirmos alimentos reciclados.

Estamos em Março, pleno inverno e ainda faltam 9 meses para a primavera. Não sei porque a UEE, a União dos Estados Europeus achou melhor termos uma estação por ano. Mas ainda bem que hoje não chove, pois não vou ter remédio, senão ir a pé para o trabalho. Tenho de ir trabalhar, como todos os comuns mortais e imortais. Aliás, se quiser adquirir o estatuto de imortal vou ter mesmo de trabalhar bastante, pois só os mais produtivos conseguem essa regalia. Por falar nisso, eu devia trabalhar este fim-de-semana que vem. Se há coisa que não entendo é esta insistência em manter os comboios em funcionamento, com tanta tecnologia que há hoje em dia... Ok, ok, eu sei. Foi o embargo da UEE à tecnologia de ponta no Estado de Portugal, por nos termos recusado, anos a fio, a respeitar as regras relativas à energia verde, imposta pela Comissão do Estados Europeus. Bom, o que sei, é que vou perder um fim-de-semana importante para a promoção a imortal. Se tivéssemos a Tecnologia de Transportes Imediatos que há no nosso Estado vizinho de Francospania, perdia só umas horas.

O que me consola, é que quando chegar à ilha da Pérola-Madeira vou refugiar-me na Realidade Virtual do “Campo no litoral”. Aquilo é que é bom, ouvir o chilrear dos passarinhos, sentir o vento com cheiro a maresia na cara, ver as ondas revoltas a chocarem contra as rochas. Ainda bem que as várias Realidades Virtuais não estão espalhadas, temos de nos deslocar para conhecermos as realidades locais. É uma maneira de não perdermos a identidade do nosso Estado de Portugal, o antigo “país à beira mar plantado”. Sim, ainda temos mar, bastante até. Quando chega o verão, como dura um ano inteiro, o nível do mar sobe até a antiga cidade de Viseu. Portanto, quem conheça o Estado consegue perceber que quase metade dele fica debaixo de água. O que nos salva são as cúpulas citadinas. A nossa capital Estatal passou da antiga Lisboa para Portuguarda, a cidade anteriormente chamada de Guarda. Não podíamos ter uma capital isolada pelo mar e sem comunicações viárias de 4 em 4 anos.

Bem, acabou-se o tempo para pensar. Cheguei ao trabalho."

Esta foi uma das gravações de memória encontradas nas escavações arqueológicas no fundo do Oceano Maior. Estas escavações estão a ajudar-nos a encontrar informação perdida há milhares de anos e a perceber o que aconteceu ao nosso planeta nos últimos milénios. O que sabemos é que na chamada Era do Grande Degelo, quando a última grande calota do Pólo Sul derreteu, o nosso planeta ficou reduzido a pequenos espaços terrestres. Tudo o resto ficou água salgada.

continua