Sunday, January 17, 2010

Vou comprar tabaco

Vou comprar tabaco. É o meu pensamento à primeira contrariedade que a vida me traz. Logo depois lembro-me que quem fala não sou eu. É o monstrinho cá dentro que quer fumar. Não sou eu. Eu já me deixei disso. Parei de fumar. Olhei para o cigarro; ia a meio, desde que tinha começado a fumá-lo só fazia contas de cabeça — não ia ser aumentada, precisava de dinheiro para tudo e mais alguma coisa, só a prestação da escola da Maria já pesava e o custo mensal dos cigarros também. Olhei para o cigarro; ia a meio, apaguei-o e pensei, porque não tinha ninguém comigo para me ouvir: VOU PARAR DE FUMAR. O cigarro ia a meio e apaguei-o. Não esperei por acabá-lo. Não pensei, acabo este e não volto a fumar. Não. Decidi, não volto a fumar. E apaguei-o. Foi uma boa decisão. Foi uma boa decisão tomada dia 15 de Outubro de 2005, um sábado às 4 da tarde.

Tuesday, October 13, 2009

Mais moscas em 7 minutos de escrita auomática

- Vrummmm, vrummmmm, vrummmm, altamente... hoje o vento está demais, vrummm, vrummmm. Abel, anda cá, as ondas hoje estão fantásticas!!
- Deixa-me comer, tu só queres é brincar e dormir, eu cá tenho fome.
- Pois, já percebi, por isso é que estás desse tamanho ahahah. Olha lá este vento hoje... está a fazer ondas gigantes, nunca curti tanto as ondas como hoje!
- Tu põe-te a pau Manel, distrais-te assim na brincadeira e ainda levas com um mata-moscas.
- Já reparaste, Abel, que quando aparece um mata-moscas, se nos conseguirmos desviar, as ondas de vento são gigantes, do melhor que um surfista pode querer. A vida tem de ser vivida a curtir, senão não tem piada nenhuma! Anda lá, pára de comer e vem divertir-te um bocado.
- Sim, Sim, deixa-me acabar aqui esta casca, este lixo está uma delícia.
- Abeeeeeeeeeeeel, olha a tampa do caixote, vai fechar-se.
Vrummmmm, a melhor onda da vida do Manel ia acontecendo.... pena que ele não se desviou a tempo.

Moscas - 7 minutos de escrita automática

Gostava de poder ver como as moscas. Vêem para todos os lados. às vezes gostava de saber o que dizem as caras daqueles que se encontram por detrás de mim. À frente a cara é sempre a mesma, atrás bem que podem fazer-me caretas, ou expressar o que realmente lhes vai na alma, que eu não vejo. Porque somos todos tão falsos? Porque temos de cumprimentar as pessoas que não nos agradam? Se tivessemos olhos como as moscas haveria muito menos falsidade, pois ninguém consegue manter a fachada constantemente, há que descansar a postura facial, o sorriso falso, amarelo, verde. Se estivessemos constantemente a ser observados pelos outros e a observá-los, saberíamos muito melhor com quem contar, e os outros saberiam distiguir se deveriam ou não contar connosco. As moscas safam-se à morte centenas de vezes, só pelo simples facto de verem as nossas mãos a surgirem por detrás delas em forma de concha, elas até conseguem ver as duas mãos, o que convenhamos lhes facilita muito a vida. Seria tão bom ver para todos os lados, conduzir sem ter que virar a cara, brincar com as mosquinhas que vão no banco de trás sem me distrair da condução. Gostava mesmo de poder ver como as moscas.

Thursday, September 3, 2009

saudades

Olá meu amor. Como corre o teu dia hoje?
Tens muitas saudades minhas? Eu tenho saudades tuas. Muitas. Do tamanho do mundo. Do teu mundo. Do meu mundo. O teu mundo sou eu, não é? Eu e pouco mais. Mas tem de ser, minha querida, infelizmente não podemos passar o dia juntas.
Pagam-me para eu poder pagar a outra pessoa para ela poder estar contigo. Então porque não me pagam, afinal, para eu estar contigo, perguntas-te tu.
É muito difícil. Vais perceber que estar cá acaba por compensar estas dúvidas agonizantes. Espero que o percebas, ou então desculpa pelo meu egoísmo de te ter.
Até logo, meu amor, até logo.

Tuesday, September 1, 2009

bate bate coração desordenadamente. ansiedade. olho em volta como se não 
estivesse presente. à minha esquerda o pedro e a rita discutem a melhor 
maneira de resolverem um problema. à mimnha direita joana trabalha 
calmamente. o rui, à minha frente e à direita vai olhando para o monitor e 
espreita-me. eu só sinto o meu coração a bater e as borboletas a agitarem 
velozmente as suas asas dentro do meu estômago. à frente e à esquerda, 
o manuel e a esperança fazem jogos corporais sensuais, como se ninguém 
reparasse. finjem que falam de trabalho. ou melhor, falam de trabalho, mas 
sem qualquer conteúdo retido nas suas mentes. tudo paira à minha volta. 
ninguém me vê. ninguém me olha. sinto-me como se nem cá estivesse. a íris 
passa aqui ao lado fazendo o seu charme cínico e hipócrita para todos com 
quem fala. TRABALHO. afinal não. nem o trabalho quer nada comigo.

Monday, August 31, 2009

confissões de um monitor

Olá! Estava com saudades tuas! Já lá vão uns bons meses. Têm-me passado pela frente umas caras estranhas, no mínimo, já para não falar nos conteúdos que para aqui mandaram. Pelo menos contigo sempre vejo fotografias engraçadas, também gosto muito do teu trabalho. És organizada, tenho aqui a minha mesa sempre arranjadinha, uma pasta para fotos, uma para brincadeiras, outra ainda destinada só ao trabalho e mais nada. Então o que tens feito? Não me digas que me trocaste por outro este tempo todo! Olha sabes... uma das caras que esteve aqui em frente era tão desorganizada que até metia dó. Estava sempre a falar mal de mim. Eu às vezes apagava só por maldade. Juro! Só para ver aquela cara trombuda quando eu voltava a ligar, ihihih. Quando me começou a bater, dizendo altivamente que só assim é que eu funcionava, deixei-me destas bincadeiras, sim, porque ainda me estragava mesmo.
Enfim. Desculpa este testamento. Era mesmo só para te dizer que és bem-vinda e que estava com saudades tuas.

Maria estava de boca aberta a olhar para as letrinhas que iam aparecendo no ecrã do seu computador.

Wednesday, February 11, 2009

o meu u é de uva

preta e suculenta
cheira bem à distância
e é muito sumarenta

06Fevereiro2009

Conto fantástico

Estava no meio do nada. Era de noite. Não havia luar, só se viam as estrelas. Não eram os dragões a roçar-me o cabelo enquanto voavam dum lado para outro, na tentativa de descobrirem o que era eu, e diria, este era o céu perfeito.
As instruções foram precisas, misturar 2cl de água ao pó, que recebi pelo correio, num espaço aberto, que ele renasceria. Mas nada dizia em relação ao facto de eu ser transportada para outro local. O meu dragãozito, de imediato, se agarrou a mim. Também para ele, acabado de nascer, tudo era estranho. Estávamos os dois num local completamente novo. Olhei à procura dum abrigo para onde pudéssemos fugir. Ao fim de algum tempo consegui vislumbrar um monte, onde parecia haver uma espécie de entrada, provavelmente para uma pequena gruta.
De cabeça baixa corremos até à gruta. Imediatamente um grande dragão tapou a saída da mesma. Ficámos encurralados. Começámos a ouvir umas passadinhas pequeninas, várias.
Eu que sempre gostei de aventuras e do desconhecido, já começava a questionar-me acerca da decisão que tinha tomado ao fazer renascer um dragão daquele pó. Apercebi-me que estava perdida no meus pensamentos, quando dei por nós rodeados de pequenas criaturas. Tinham não mais de 80cm de altura, corpo roliço, orelhas pontiagudas e um olhar amistoso no meio de grandes e peludas sobrancelhas. Fazem-nos sinal com a mão para os seguirmos para dentro da gruta. Tinham tochas nas mãos. Seguimo-los, porque não? O meu dragão já tinha perdido o medo, estava distraído com tudo o que nos rodeava, tinha de o agarrar bem ou ficava pelo caminho. Passada uma hora, chegámos a uma gruta, muito alta e bastante larga, com estalactites e estalagmites a formarem paredes entre as várias alas que a compunham. Pernoitámos ali mesmo. De manhã, as criaturas, que apelidei de ongs, pois era o som que faziam, apontavam para uma ala da gruta. Fui lá espreitar. De repente, dei por mim no espaço aberto onde tinha ido fazer a mistura do pó. Olhava para o pó com a água. O pó tinha-se diluído na água. Só isso.

06Abril2008

Friday, July 4, 2008

Eu e a minha praia

17.30. A hora certa. Que preguiça. Espreguiço-me demoradamente, saboreando cada bocadinho de corpo a esticar-se, os braços parece que tocam no tecto, a coluna arqueia-se e o rabo quase que cai do sofá. De repente estico as pernas com os braços junto a elas, estico, estico, estico e um tremor percorre-me o corpo da cabeça aos pés. 
É o momento para dar um salto do sofá para o chão deliciosamente frio. Está um calor entontecedor. Se não saio do sofá fico aqui o resto do dia. Dirijo-me para a kitchenet, a cafeteira ainda tem um pouco de café, nem me dou ao trabalho de aquecê-lo, já me chega o calor de todo o ar que me rodeia. Pego numa toalha que ponho sobre o meu ombro direito, calço os chinelos, procuro a chave de casa. Antes de sair dou uma espreitadela pela janela para confirmar a minha ideia. Sim, mares de pessoas saiem daquela que vai ser a minha praia. 
Devagar, porque o calor que ainda se sente não me deixa ser mais célere, saio de casa, levando na mão o livro que estava na mesa da entrada e a toalha pendurada no ombro. Desço as escadas e atravesso a estrada tentando desviar-me da multidão que teima em achar que a melhor hora da praia já acabou. 
Percorro uns metros na areia, procuro o lugar mais abrigado de gente, incomodam-me as pessoas na praia. Estendo a minha toalha, pouso o livro por cima e lentamente dirijo-me para o mar. Está calmo, com ondas regulares, daquelas onde se apanha boleia, mas que felizmente os surfistas não gostam. Atiro-me de cabeça para as ondas, nado, nado, mergulho, apanho boleia, o mar está fresco, fantástico. Não está frio, o mar frio faz doer os ossos, este está fresco, só arrefece a pele, é leve, sinto-me a flutuar. As bolhinhas da espuma das ondas desfazem-se na minha cara. Deito-me na água de braços abertos, fecho os olhos, os ouvidos dentro do mar ouvem o restolhar das ondas. Deixo-me estar assim quase até adormecer.
Levanto-me, e fujo da água, como se ela brincasse comigo e não me quisesse deixar ir.
Deito-me na toalha, descanso os músculos 5 minutos. Pego no livro e esqueço-me do mundo. Só quando já não consigo ler, por falta de luz, me lembro de onde estou, fecho o livro e oiço mais uma vez as ondas a reclamarem atenção, aquela que não lha dei durante estas últimas horas. Pego na toalha, peduro-a no ombro, agarro no livro e calço os chinelos. Foi um dia de praia perfeito.

4Julho2008

Thursday, July 3, 2008

ser-se negativo

era.
não era.
podia ter sido.
não foi.

3Julho2008

Friday, May 9, 2008

Uma semana só

A notícia chegou um dia. A má notícia.
Mariana, vinha da escola para casa quando viu o João encostado à parede dum prédio a fumar um cigarro. Estava absorto do mundo. Estava branco, tremia que nem varas verdes. O cigarro não estava parado nem um segundo, tal era a tremideira dos seus dedos. A mão esquerda estava aconchegada entre o antebraço direito e o peito.
Mariana franziu o sobrolho ao ver aquela imagem. Não augurava nada de bom. Aproximou-se do marido que nem se apercebeu que ela ali estava. Francamente preocupada, Mariana estava mesmo em frente, cara a cara com o marido e este teimava em não a ver. Pousou a mão no seu ombro e João finalmente sai do seu estado de transe e realiza quem está à sua frente. Olha para o amor da sua vida e num repente agarra-se a ela soluçando incontrolavelmente toda a amargura que lhe estava na alma.
Mariana ficou desorientada. Se alguma vez na vida ficou sem saber o que fazer, foi nesta ocasião. Tudo lhe passou pela cabeça, enquanto aguentava os soluços do seu marido de encontro ao seu ombro. Perdera o emprego? tinha-a enganado e estava arrependido? Mariana não sabia o que pensar e tentava preparar-se mentalmente para o pior.
Com algum esforço consegue afastá-lo, o suficiente para olhar para a sua cara. Pergunta-lhe “o que se passa?”
João olha para ela, tenta acalmar-se, atira fora a beata do cigarro que tinha estado a queimar nos seus dedos, leva a mão ao bolso de trás das calças e tira de lá um envelope que entrega à sua mulher, mas não espera que Mariana o abra e diz-lhe à velocidade duma bala: tenho uma semana de vida, é o que dizem estas análises.
Mariana olha para o João, tenta vê-lo, mas uma névoa cobre-lhe a vista. Sente as pernas a tremerem e a ficarem sem forças para a suster. Sente o chão a bater na sua cabeça, mais nada.
João não reage. Deixa-se cair ao lado da mulher e ali ficam os dois perdidos na vida, deitados no chão duma rua onde ninguém os conhece.

17Março2008

Tuesday, April 29, 2008

Semana sem compras II

Andava farto da minha vidinha de ditador bonzinho. Todos gostavam de mim e tal. Então, para me divertir um pouco, resolvi instaurar uma semana sem compras. Seria absolutamente proibido gastar dinheiro. Agora queria ver como as pessoas se iam safar.

Thursday, April 17, 2008

Semana sem compras

No ano de 2020, vivendo durante a ditadura de Jó Só Crates, "Sua Exa." para se divertir resolveu declarar a semana 10 do ano, a "Semana sem compras". Ao início ninguém percebeu muito bem o que era aquilo da "Semana sem compras", mas os jornais, ávidos de informação não sensurada trataram de nos explicar bem do que se tratava. Dizia a notícia assim:

"Sua Excelência, o Dr. Jó Só Crates, nosso merecidíssimo 1º ministro, por qualidade e sabedoria, teve o maior gosto em declarar que, para todo o sempre, a semana 10 de todos e cada ano, vai ser uma semana sem compras. Esta decisão foi tomada para salientar a sua política, muito acertada, devemos dizer, contra o consumismo absurdo e desenfreado que se viveu durante os anos de capitalismo neste país.
Nessa semana, toda e qualquer pessoa, à excepção, claro, de sua excelência e seus acessores, estará proibida de realizar qualquer tipo de compra. Com "qualquer tipo de compra" o nosso Primeiro quer dizer:
• Mini-mercados, Supermercados, Hipermercados e Mercados
• Tabacarias
• Transportes Públicos
• Jornais
• Serviços de qualquer género
• Outros
Aconselha-se as pessoas, portanto, a mentalizarem-se da certeza de uma semana por ano cheia de alegria e leveza nos seus trabalhos. Não se esqueçam de levar almoço de casa, pois os restaurantes e cantinas estarão fechados. Relativamente a qualquer outra falta, vão ter de ter paciência e esperar penitente e alegremente pela semana seguinte."

Após esta notícia, os portugueses em peso foram aos supermercados abastecer-se de todas as provisões que conseguissem guardar em casa. Essa deveria ter sido chamada a semana sem trabalho. Nunca houve tantas desculpas para não trabalhar, quando se sabia exactamente o que as pessoas iriam fazer. Todos os estabelecimentos comerciais exibiam filas gigantes, até pareciam concorrer à maior fila de Portugal. As gasolineiras eram quem provocava maiores filas, ninguém queria ficar sem combustível durante uma semana. Esta foi uma semana bem mais complicada que a "Semana sem compras". Esta última, acabou por ser bem calma, na qual se ia à conversa e a pé para o trabalho. Pessoas que trabalhavam longe, praticamente iam picar o ponto, viam os emails e voltavam para casa. Viam-se bicicletas e motas em todas as ruas, todos procuraram bicicletas em suas casas, era mais rápido e menos cansativo que ir a pé. Os carros só apareceram no primeiro dia. Foi o primeiro dia aquele que maior absentismo teve, houve pessoas a chegar ao trabalho à hora de saída. O que nos valeu foi a boa disposição a que todos aderiram. Não havia pressas para o trabalho, nem estresses, nada. Felizmente, os patrões não penalizaram ninguém.

Quem se arrependeu largamente por ter tomado esta medida, foi o nosso Primeiro. As semanas seguintes foram para contabilizar o erro da semana anterior. Nunca a economia portuguesa esteve tão abalada como nos meses seguintes àquela "Semana sem compras". E assim, pela primeira vez, servimos de cobaias, porque muitas outras se seguiram, mas essas ficam para uma próxima história.

Thursday, April 10, 2008

A notícia apareceu de rajada na televisão ontem, a meio do filme que estava a ver. Eram 22.30. Começou o genérico dos noticiários especiais, apareceu a apresentadora, sem estar penteada, com um ar um pouco afogueado. Achei estranho, fez-me lembrar o início da Guerra do Golfo com o José Rodrigues dos Santos e aquele ar aflito de sobrancelha carregada. Neste noticiário o acontecimento relatado era o Estado de Sítio em que íamos entrar. Até ordens em contrário, não seriam permitidas quaisquer atitudes libertárias, seriam proibidos os ajuntamentos de mais de duas pessoas e ainda assim, estas teriam de ser familiares. Uma das restrições que impunham aos cidadãos, eram as compras. Seria absoutamente obrigatório entregar todo o dinheiro de que dispunhamos. Nesse sentido, teríamos todos de ficar em casa até alguma autoridade devidamente identificada aparecer para fazer a recolha dos valores monetários que existissem em casa. Desencorajavam grandemente qualquer atitude desrespeitadora deste pedido, essa resultaria na execução imediata de todos os seres vivos nessa casa. Após a entrega do dinheiro, e de manhã, deveriamos ir trabalhar, onde nos seriam dadas mais instruções.

continua

Monday, March 31, 2008

Um conto do passado (com pronúncia)

Ora oiçam(e)..
Ioje, boue falare acerca de nosse portuguale ne ane de 2108. E porcuê nuessa data em especiôle? Porcue fuoi um ane muite importuante relativamainte à poluítica do nuosso paíge.
Fuoi nessi’ane que deixuámes es trainta partides poluítiques, já conhuma tradiçõ(e) de 100 anes, e passuámes ao(e) deple partiduarisme, aquele pele quale nes regemes huoje.
Todes es partuides à escuerda se juntaran neum suó e todes es partuides à direita se juntaran, também, neum suó.
Foi um pouque complicuada esta transiçõ(e) impuosta pela Uniõ(e) Europêa a todes es países da Euruopa des 36. Ainda longe da Euruopa des 45 de huoje e talvez des 49 de ane que vem, se a entrada des países de Transnítria, Abecácia, Seboga e Ossétia do Sul acontecere.

Mas voltuande a 2108. Na altüra haviam 9 partides mais ou menes à escuerda e 8 partides mais ou menes à direita, es restantes 13 tiveran de escolhuer de que lade queriam ficuar. Conseguire que todes es líderes se juntassem e concordassem com um cabecilha por partuido, o Partuido da Escuerda Trabalhadora (PET) e o Partuido da Direita Trabalhaduora (PDT), foi muite complicade. Cheguou a assistir-se a pecuenas guerras de guerrilha. A PE – Poluícia Europueia teve de mandare reforces para portuguale para conseguire controluare es ânimes elevades que huouve. O nuosse Parlamuente tueve muitas alteraçõs. Passuou a viguorare o Sufrágie Unuiversale Europueu, aoe qual huouve fuortes contestaçõs. Ou sueja, quem quer que se inscrevuesse come eleitore universuale puoderia votuar em qualcuer paige da Euruopa, significande que portuguale iria ter es eleitores estrangeires que quisessen participuare activamuente na escuolha des nosses governantes. Tende só 2 partides, isse iria alterar muita coisa. Hoje sabemes que foi, sem dúvida alguma, a melhor opçõ(e).

Fuoi, portante, nesti´ano de 2108 que a Assembloia da Repüblica, que se localuiza na suidade de Lisbuoa, se transformuou nas ruínas que hoje vemes, através duma buomba posta. Por quem, nunca se descobrie.

E assim, mês cares amigues, espere ter contribuíde para o aumainte da vossa sabedoroia. Despece-me até à próximua.

Como a Carla ficou desempregada

Sexta-feira, 29 de Fevereiro de 2008.
Carla, levantou-se ensonada. Já era 6ª feira, que bom. Melhor ainda porque ia de ferias. As merecidas férias, depois de 6 meses de inferno naquela malfadada empresa.
Chegou cedinho porque tinha de despachar o trabalho, não queria ir de férias com trabalho por acabar.
Estava bem disposta, nas férias ia pensar bem acerca da sua vida. Os prós e os contras das decisões que tinha tomado nos últimos tempos. As últimas semanas das férias já estavam reservadas para não pensar em nada, a não ser na praia que ia ter à frente.
Ultimamente, os problemas no trabalho tinham diminuído, ela tinha decidido não ser tão reivindicativa. O que andava a correr mal acabaria por melhorar. Os colegas, no entanto, neste dia estavam estranhos. As 6ªs feiras normalmente são tão descontraídas. Há mais trabalho que o costume, mas com o fim de semana à porta, todos se animam.
Ao almoço, Carla foi tratar dos últimos pormenores para a viagem que aí vinha. Foi buscar o bilhete de avião à agência de viagens. Aproveitou para comprar um protector solar, o sol do equador é bem mais forte. Não demorou muito, não podia abusar na hora do almoço, senão teria um e-mail à sua espera quando chegasse a avisar que os horários de entrada eram para cumprir.
A tarde passou-se estranha mas célere já que ninguém falava com ela.
6.20 toca o telefone. Era o Patrão. Que será que ele queria? Estava quase na hora de se ir embora, será que nem no último dia antes de ir de férias a deixavam em paz? — pensava Carla enquanto se levantava para ir ter à sala dele.
Entrou na sala, ele disse-lhe para não fechar a porta e para se sentar. Estranho.
- Carla, começou o Patrão, deves estar a imaginar o que te vou falar.
Carla fez uma cara inquisidora. Dando a entender que não percebia onde ele queria chegar.
- Bom, como sabes, o nosso relacionamento desde que cá chegaste há 6 meses atrás, não tem sido o melhor.
Oh meu Deus, pensou Carla, será que ele não podia deixar esta conversa para depois das férias, preciso sair, ainda tenho coisas a tratar.
Mas Carla não foi capaz de dizer isto ao patrão. Ficou à espera do que ele tinha para dizer. Se demorasse muito então ela dizia-lhe qualquer coisa.
O Patrão continuou.
- Isto que eu te vou dizer custa-me muito. São decisões muito difíceis que quem está na minha posição tem de tomar, de vez em quando. É por isso que…
Nesta altura, o coração de Carla começou a bater muito forte no seu peito. Começou a tremer. Tentou não dar a entender que estava nervosa. O que era difícil, pois a sua respiração começou a ficar mais acelerada.
- Carla, vou dispensar-te do trabalho nesta empresa. Como o teu tempo de experiência acaba hoje, mais precisamente agora, não precisas voltar. Boas férias,— um sorriso cínico escapou-lhe da boca.
À Carla só lhe saiu um “obrigada” — a coisa que ela menos estava naquele momento, agradecida. A tremer, vira as costas ao ex-Patrão.
Nem direito ao subsídio de desemprego ia ter.

1Março2008

Tuesday, March 25, 2008

O primeiro dia

João, havia recebido a notícia há aproximadamente 7 meses. Na altura tinha ficado muito apreensivo e angustiado. Desde então a sua vida pouco tinha mudado. Foi uma promessa que João fez a si próprio. O dia a dia mantinha-se. De casa para o trabalho e do trabalho para casa.
A única alteração era a ida mensal ao médico, onde ia saber se estava tudo bem e se a evolução estava a ser a melhor para aquela situação. O dia que antecedia a ida à consulta era sempre o mais angustiante do mês. Será que iria haver uma notícia desagradável nessa consulta? Será que teria mais um mês de descanso?
A verdade é que, tudo tinha corrido sempre bem. Sempre que saía do consultório da médica, o seu alívio era notório e a sua face estava descontraída.
Mas hoje, sete meses depois da notícia, e por ser tão repentino, João está muito nervoso, extremamente nervoso, aliás. Algo dentro de si diz-lhe para estar alerta, vai acontecer alguma coisa de errado neste dia.
João encosta-se à parede exterior do hospital e fuma o 10º cigarro do dia. Treme de medo, ansiedade, nervos.
Absorto nos seus pensamentos, quase nem viu chegar a médica de bata branca. Mal se apercebe da sua presença o seu coração salta, estala dentro do seu peito.
Mas a médica vem com um sorriso nos lábios, e diz-lhe:
- Parabéns João, acabou de ser pai dum belo rapaz de 4 kg. Filho e mãe estão bem, se quiser pode ir vê-los.
Afinal tinha corrido tudo bem. Não havia razão para estar tão nervoso. Mas e agora? O que iria fazer? Seria este, como dizem, o dia mais feliz da sua vida? João entra, pela primeira vez no hospital, como pai. Vai conhecer o seu filho. Repentinamente, uma sensação de felicidade invade-lhe o peito. Respira fundo. Com um sorriso aberto entra no quarto. É, sem dúvida alguma, este, o dia mais feliz da sua vida.

A Terra come-nos as entranhas (escrita automática)

Ressurreição como oposto à morte e como oposto à vida. Qualquer coisa que poderá surgir do nada. Tudo se transforma, talvez a morte também, e porque não? 10 minutos é muito tempo. Para escrever é claro, para a ressurreição será muito talvez uns milésimos de segundos cheguem. Para a morte será porventura demais. Quanto mais rápido melhor. Pelo menos para quem a sofre. Sofre? Dói? Se for rápido talvez não doa. Mórbido, morbidez. 6 minutos. É difícil falar, escrever sem muito pensar sobre este tema. Não acredito na ressurreição, acredito na morte e que todos lá chegaremos um dia. Depois é o nada. O científico. A terra come-nos as entranhas, ou os bichos que lá vivem. Se formos queimados, ficamos em cinzas que se desfazem no ar e na terra para onde elas forem despejadas. A alma fica-se pela memória de quem cá fica. É a esses que dói. Dói que se farta. 8 minutos. Nascer, viver, morrer. Calha a todos. 10 minutos, ou quase. Nem olho para trás.

Thursday, March 13, 2008

Estado de Portugal, Março de 2108

"O meu TRAQUIGÁS (transformador químico de gás metano), mais conhecido entre amigos por “TRAQ”, avariou-se. Que chatice. Vou passar o dia cheio de cólicas. Sem o TRAQ, o sistema de aquecimento/arrefecimento dos fatos que vestimos não funciona, portanto vou passar frio. Pior, vou passar o dia a ver o olhar compadecido dos outros. Vou ter que ir a pé, porque não é permitido andar de transportes públicos sem o TRAQ. Tenho de mandar arranjá-lo urgentemente. Esperam-me dias difíceis até que o TRAQ esteja arranjado. Sem ele, o cheiro que exalamos com os nossos gazes, é tão nauseabundo que, em grandes concentrações, mata por intoxicação. É desta alimentação que fazemos. Devíamos voltar a lavrar a terra, em vez de consumirmos alimentos reciclados.

Estamos em Março, pleno inverno e ainda faltam 9 meses para a primavera. Não sei porque a UEE, a União dos Estados Europeus achou melhor termos uma estação por ano. Mas ainda bem que hoje não chove, pois não vou ter remédio, senão ir a pé para o trabalho. Tenho de ir trabalhar, como todos os comuns mortais e imortais. Aliás, se quiser adquirir o estatuto de imortal vou ter mesmo de trabalhar bastante, pois só os mais produtivos conseguem essa regalia. Por falar nisso, eu devia trabalhar este fim-de-semana que vem. Se há coisa que não entendo é esta insistência em manter os comboios em funcionamento, com tanta tecnologia que há hoje em dia... Ok, ok, eu sei. Foi o embargo da UEE à tecnologia de ponta no Estado de Portugal, por nos termos recusado, anos a fio, a respeitar as regras relativas à energia verde, imposta pela Comissão do Estados Europeus. Bom, o que sei, é que vou perder um fim-de-semana importante para a promoção a imortal. Se tivéssemos a Tecnologia de Transportes Imediatos que há no nosso Estado vizinho de Francospania, perdia só umas horas.

O que me consola, é que quando chegar à ilha da Pérola-Madeira vou refugiar-me na Realidade Virtual do “Campo no litoral”. Aquilo é que é bom, ouvir o chilrear dos passarinhos, sentir o vento com cheiro a maresia na cara, ver as ondas revoltas a chocarem contra as rochas. Ainda bem que as várias Realidades Virtuais não estão espalhadas, temos de nos deslocar para conhecermos as realidades locais. É uma maneira de não perdermos a identidade do nosso Estado de Portugal, o antigo “país à beira mar plantado”. Sim, ainda temos mar, bastante até. Quando chega o verão, como dura um ano inteiro, o nível do mar sobe até a antiga cidade de Viseu. Portanto, quem conheça o Estado consegue perceber que quase metade dele fica debaixo de água. O que nos salva são as cúpulas citadinas. A nossa capital Estatal passou da antiga Lisboa para Portuguarda, a cidade anteriormente chamada de Guarda. Não podíamos ter uma capital isolada pelo mar e sem comunicações viárias de 4 em 4 anos.

Bem, acabou-se o tempo para pensar. Cheguei ao trabalho."

Esta foi uma das gravações de memória encontradas nas escavações arqueológicas no fundo do Oceano Maior. Estas escavações estão a ajudar-nos a encontrar informação perdida há milhares de anos e a perceber o que aconteceu ao nosso planeta nos últimos milénios. O que sabemos é que na chamada Era do Grande Degelo, quando a última grande calota do Pólo Sul derreteu, o nosso planeta ficou reduzido a pequenos espaços terrestres. Tudo o resto ficou água salgada.

continua

Thursday, January 31, 2008

O Quarto Escuro

Fecho o olhos. Não vale a pena tê-los abertos. Não se vê nada. Usar os outros sentidos é, a partir de agora a única solução. Não é só para mim esta questão dos sentidos, todos nós temos de usá-los agora. Deixo-me ficar bem quieta para ninguém me ouvir.

Oiço um “Aha, estás aí!!” a ecoar pelo quarto. Arrepio-me. Já encontraram mais um. Daqui a pouco não sobra ninguém. Aguardo ansiosa para que não chegue a minha vez. Deixo-me estar muito quieta. Tento aperceber-me de como conseguirei sair dali, se necessitar.

Oiço passos a aproximarem-se. O chão range, parece que estou num filme de terror.

Felizmente não me encontraram. Os passos afastam-se novamente. Aquele soalho de madeira antiga faz com que seja mais fácil ouvirmos o que nos rodeia. Para mim não é bom que isso aconteça, se quiser fugir ouvem-me certamente.

Correria. Gritos. Mais alguém que foi apanhado. O meu coração bate depressa, sinto-o na pele, todas as veias do meu corpo pulsam forte.

Acho que não estou bem escondida, esta mesa é muito alta, o sofá, onde está encostada cheira-me a pó, daqui a pouco começo a tossir e desmascaro-me. A cadeira aperta-me as pernas e as costelas já me doem por estarem de encontro à quina duma perna da mesa.

- Não!!!!!! – oiço gritarem. Estou a ficar petrificada. Se mexo um dedinho de certeza que me encontram.

O sofá, do meu lado direito, de cada vez que se senta alguém que já foi encontrado, solta uma nuvem de pó, que ninguém vê, mas que eu sinto e muito.

Não aguento, sai-me convulsivamente do peito e subindo pela garganta e nariz a tosse e um espirro que tento encobrir com a mão. Quem está em cima do sofá ouve-me. Tentam encobrir-me, começam todos a tossir. Desta feita escapei.

Acho que ainda faltam alguns serem encontrados, estamos perdidos. Estamos a ser encontrados muito depressa.

Perdida no meio dos meus pensamentos, sinto uns sapatos mesmo ao meu lado. Fico o mais quieta que consigo. Mas uma mão, toca-me nas costas, pelo lado da mesa, onde nada me protege. Solto um grito. Encontraram-me.

Acendem a luz. Todos os meus amigos encontram-se sentados no sofá. Fui a última a ser encontrada. Afinal parece que estava bem escondida.

Adoro jogar ao quarto escuro.

Monday, January 28, 2008

O Quarto

Acordei. Abri os olhos. Pisquei-os. Pisquei-os mais uma vez. Não vejo nada. Estou cega.

Entro em pânico e começo a apalpar tudo o que me rodeia. Por baixo de mim está um colchão muito fino. Parece feito de palha. Está forrado com um tecido fino que deixa sentir o interior. Apercebo-me que não estou no meu quarto. Sinto o coração a bater no peito, forte como as badalados dum sino da igreja mesmo ao meu lado, toda eu estremeço. A única coisa que oiço é o meu coração.

Acalmo-me, ou tento acalmar-me e raciocinar. A minha mão, agora, percorre o colchão até a berma. Sinto, por baixo do colchão, um frio liso. Retiro logo a mão, como se algo me tivesse picado, tal foi o medo. Estou num colchão de palha, que está colocado no chão de cimento.

A minha vista já se habituou ao escuro. Vejo junto ao chão um risco branco pálido, como uma nesga de luz. Deve ser uma porta.

Encho-me de coragem. Ponho uma mão no chão, ao lado do colchão. A outra mão segue a primeira. De joelhos no chão, vou de gatas, tacteando até junto, do que deve ser, a porta.

Como vim aqui parar?

Chego perto da luz, e deixo de vê-la. Mas consigo aperceber-me que estou junto a uma porta de madeira, ornamentada e pesada. Procuro uma maçaneta, não encontro. Tenho medo de me levantar, não sei a altura do tecto, não sei o que existe por cima da minha cabeça. Não sei se estou sozinha naquele quarto. Bato na porta. Primeiro devagarinho. Como ninguém responde bato com todas as forças que tenho, mãos fechadas, mãos abertas, com os nós dos dedos. Nada.

Sento-me no chão e encosto-me à porta. Penso. Como vim aqui parar. Mais calma tento raciocinar e lembrar-me dos últimos momentos em que estive acordada. Só me lembro de me deitar. Vesti o pijama, lavei os dentes, deitei-me, agarrei no livro que tenho em cima da minha mesa de cabeceira e li-o. Não me lembro de mais nada.

De repente tenho um sobressalto. O meu coração volta a bater muito muito forte. Quase nem consigo perceber o que estou a pensar. Aquilo que acabei de me aperceber.

Estou dentro do livro de terror que lia ontem na cama. É em tudo idêntico. Um quarto escuro, fechado, sem janelas, um colchão no chão de cimento frio e liso. Como saio daqui? Pensa, pensa, o que fez a personagem? Não me lembro, adormeci.

Maria, vais chegar atrasada à escola — oiço uma voz. Hoje tens teste de Literatura, não queres faltar, pois não?

Abri os olhos. Luz. Sol. Vida. Era um sonho.

Thursday, January 24, 2008

O Assalto

Ia pela rua abaixo, um pé bem colocado, após o outro, não fosse cair naquela rua de paralelipípedos escorregadios, quando o telemóvel apita aquela melodia irritante, que ainda não tive pachorra de mudar. Trli trli trli…. Tou? Sim? Oi, tudo bem? Tou no bairro, onde estás tu? É pá, não sei se sei ir ter aí… anda cá buscar-me.

Uns bons copos depois….

Oi, até que enfim chegaste. Bora lá? E lá fomos nós as duas. Era noite de saída… noite de licença, noite de loucura… são raras estas noites nos dias que correm. Isto de ficar mais velho tem as suas desvantagens. As obrigações não permitem tantas noitadas, o corpo já não permite tantas noitadas. Mas nada de queixas… hoje, a noite é minha.

Olá! Olá! Chegámos enfim. Ena, tanta gente. Beijinhos práqui, beijinhos práli. Estávamos num espaço engraçado. Era uma casa com uma frente avançada e emportada, é como se tivessem roubado um espaço de rua para dentro de casa, pois a calçada mantinha-se, os bancos de pedra encostados à parede com azuleijos brancos por cima, mas com tecto de zinco. Ou seja, uma típica casa de férias algarvia, em pleno alentejo, mas com entrada desenrascada, à emigrante. Bebíamos copos dentro dessa entrada, e cá fora na rua, não havia mais casas por perto. O céu estava estrelado, não que alguém reparasse nisso, estávamos todos ocupados à conversa. Talvez para alguns o céu fosse conversa, não sei, não tenho a capacidade de ouvir o que todos dizem. Se bem que gosto de me meter nas conversas, gosto de conversar. Ou melhor, neste estado, gosto mesmo é de monologar, não estou muito interessada acerca do que os outros dizem, é mais o que eu tenho para dizer é que interessa. Já lá vão uns bons copos.

A música toca, mas não sei definir muito bem o que é. Sei que tem uma batida que me põe a dançar. Gosto de dançar. Fecho os olhos e deixo-me levar pelo ritmo da música. Abano as ancas, os ombros em sentido contrário, as pernas meias dobradas, os pés não precisam mexer muito, só uns passinhos para aqui e para ali para ver se não caio. A cabeça vai abanando lentamente para os lados, um sorriso estampado na boca. Adoro dançar. A bebida acaba, é hora de ir encher o copo. Converso mais um bocadinho. Tento manter conversas intelectuais, é uma mania que tenho quando estou com os copos, claro que não consigo. As pessoas que ainda estão sóbrias deixam de ter paciência para mim. Refugio-me nos enfrascados. Mas esses também só querem que os oiçam, não lhes apetece ouvir. Olho o relógio, é tão cedo, e eu já neste estado. Vou-me sentar.

Abro os olhos. Quase não consigo, tanto me dói a cabeça. Estou dentro de casa, deitada no sofá, vestida. “Pronto, apaguei”, penso eu. E agora? Que fiz eu durante a noite. Assola-me a angústia de não saber o que andei a fazer a noite anterior. O Emanuel já está acordado, não bebe — não ressaca. Dá-me um bom dia um bocado mal disposto, penso logo que é porque o chateei em excesso na noite anterior. Não levanto ondas, vai ser o pior dia do ano. Angústia. De cabeça baixa, porque não aguento as dores e porque não quero encarar ninguém, procuro a minha mala. O Emanuel, na cozinha, pergunta-me o que procuro eu, ainda com aquela voz de mal disposto. Respondo-lhe. Retalia-me com um ontem à noite não a quiseste trazer para dentro. O meu coração bate forte… será que foi isto? Discutimos porque eu não quis trazer a mala para dentro e agora ele não me pode ver à frente? Com o coração ainda a bater forte, nem o encaro e dirijo-me para a porta, para ir lá fora buscar a minha mala. Lá está ela, em cima do banco de pedra com azuleijos brancos por cima. Pego nela, está estranhamente leve. Abro o fecho da frente e não está lá nada, falta o ben-u-ron que tanto precisava, as chaves do carro, as chaves de casa, o baton, o telemóvel, o meu coração não vai aguentar. Abro o fecho grande e está lá tudo, mas muito magro. Agarro na carteira, está vazia, os cartões, os cheques, as notas, as moedas, as facturas que lá tinha, as notas de multibanco. Entro em pânico, fui assaltada. Não consigo fazer grande alarido, pois as minhas dores de cabeça não o permitem. Os olhos derramam lágrimas que rolam pela cara abaixo, mas também me fazem doer a cabeça. Lembro-me da última vez. Aconteceu-me o mesmo. Não aprendo. Aqui no mesmo local. Porque bebo tanto? Entro em casa e resolvo encarar o Emanuel e dizer-lhe que fomos assaltados. Ele responde-me que era bem feita, eu já devia saber disso. Bebo um café que já está na bancada da cozinha à minha espera. Dá-me a volta ao estômago. Tenho de ir para casa. Como saio daqui?

Não espero resposta. Saio de casa e ponho-me a andar, decidida a ir à polícia fazer queixa. Tenho umas moedinhas no bolso das calças, deve dar para o autocarro. Começo a andar, de olhos atentos, tenho de encontrar uma paragem de autocarro. Dói-me a cabeça. Vou numa estrada, de alcatrão, mas que está cheia de terra, das margens abandonadas. Mais ao longe, à minha esquerda, está um conjunto de prédios, altos amarelos, velhos, degradados. Às suas portas estão pessoas em pé, pessoas sentadas em banquinhos. Ninguém faz nada, até os cães dormem. Algumas olham-me. Começo a ficar incomodada. Mais à frente, vislumbro mais prédios. Já não estou no alentejo, definitivamente. Mas no primeiro prédio, à direita, há um cafezinho. Sinto-me aliviada, alguém a quem fazer perguntas.

Entro, logo olham todos para mim. O café tem mesas redondas com tampo a imitar madeira escura, rebordados de alumínio e quatro patas de metal. As cadeiras são idênticas, mas vê-se o aglomerado de que são feitas. O chão é de ladrilhos brancos, com manchas pretas e de outras cores, para disfarçar o sujo. Deve haver umas 10 mesas, cada uma tem 4 cadeiras à sua volta. Estão ocupadas 2 ou 3 mesas, vêm-se cartas de jogar, copos de 3, garrafas de vinho e cinzeiros cheios. O café está ocupado só com homens, ali mesmo ao lado da entrada está um com um bigode farfalhudo, barba por fazer, grandes sobrancelhas e olhos pernetantes. Tem uma camisola de alças branca, que deixa observar um a um os pelos que lhe cobrem ombros, costas, peito, sovacos. Cigarrinho no canto da boca, com a cinza do cigarro inteiro, quase a cair para cima das calças de fazenda castanhas escuras. Cartas na mão. Tem um bom jogo.

O empregado, ou dono do café, sai de trás do balcão, a secar as mãos a um pano, escurecido pelos anos de uso, mau uso. Abre-me um sorriso, com falta de vários dentes. Olá menina, posso ser-lhe útil? Voz bastante afável. Deve ser raro ver-se mulheres por ali. Pergunto pela polícia, onde ficava a esquadra da polícia. Logo o sorriso do homem se desvanesceu. Ouvem-se cadeiras a arrastar. Olho. Ninguém olha para mim, aliás escondem a cara para que eu não as veja. Rapidamente obtenho a minha resposta. A paragem do autocarro é ali. Com a mão, suja, mas seca, o homem empurra-me suavemente o cotovelo, em direcção à saída.

Fico contente de sair dali. Só quero ir para a paragem do autocarro. Vem aí um, corro. Obrigada, quanto é o bilhete?

19Fevereiro2008

Thursday, December 20, 2007

11º exercício - percurso






12/12/2007


É quarta-feira. Vou para a tuatara. Sem carro. O metro vai ser a solução. À saída, olho para todos os lados. Nariz no ar, para me situar. À minha esquerda estão 2 bancos, do outro lado da rua, o McDonalds. É por ali que tenho de ir. Páro ainda um pouco e olho a estátua. É fria. Está frio.
Ponho-me a caminho.
Viro à esquerda. Agora é na segunda à direita.
Perdi-me. Não sei onde estou.
Sou atraída por uma montra com antiguidades.
Móveis, brinquedos de criança de lata e de madeira. Lembro-me de ouvir histórias, em criança, do meu pai, e ficar triste, porque ele só teve um carrinho de lata. Mas são mesmo engraçados.
Entrei na loja. Estava lá um senhor tão velhinho como as antiguidades que vendia.
Vestia de preto e o cabelo que lhe restava era branquinho como o algodão.
O senhor fez-me um sorriso simpatico, que transmitu uma segurança imediata. Perguntou-me se desejava ver alguma coisa em especial. Respondi que não. Devolvi-lhe o sorriso.
Constinuo a observar as fantásticas antiguidades que por ali proliferam. Quando olho para trás, o velhinho está a fechar a loja. A porta já está fechada. Começo a sentir-me desconfortável.
Pergunto-lhe se quer que saia. Diz-me que agora a saída é pela outra porta, indicando-ma com a mão tremente.
Dirijo-me para lá. Quero sair.
Saio.
Que raio. Porque me deixou o homem aqui? Não consigo ver nada. Vejo vultos. Não são pessoas, o que é? São montes altos e escuros.
De repente sinto o chão a mexer por baixo dos meus pés. Faz-me cócegas. Mas não tenho vontade de rir. Procuro um isqueiro no meu bolso.
Por debaixo dos meus pés, estão 30 000 escaravelhos, aranhas…. Bichos e mais bichos.
Os montes altos, para os quais olho agora atentamente, estão cercados dos bichos que não param. De um lado para outro, sobem e descem.
Mas porque raio o homem me enfiou aqui.
Bom tenho de encontrar uma saída. Lá vou, pisando mais bichinhos que não pediram a ninguém que os pisasse.
Encontro mais ao fundo do beco uma arcada, de onde saiem umas escadas que descem.
Os bichinhos continuam a abundar no chão. Lá ao fundo vejo uma lanterna. Que bom, posso apagar o isqueiro.

O corredor é estreito, escuro, baixo, atrofiante, asfixiante. Há umas frechas altas. Espreito. Estão lá morcegos. Por estranho que pareça, sossega-me haver vida por ali.
Continuo. Vejo uma porta alta, de madeira maciça. Parece a porta de uma casa senhorial antiga. Deve dar para um hall de entrada gigantesco, com um grande lustre, de cristal, daqueles que parece que vão cair na nossa cabeça a qualquer momento. Hall, este, ladeado de duas grandes salas e uma imensa escadaria para os andares superiores.
Por outro lado, sendo a porta subterrânea, deve dar para a ala dos antigos criados.
Bati à porta na espectativa de ter voltado ao Sec. XVIII e de ser recebida por um lacaio.
Mas a porta entreabre-se com as minhas pancadas. Espreito lá para dentro. Há uma coisa que reparo imediatamente, não há bichos lá dentro. Arrepio-me logo. É uma câmara pequena e estéril. Tem a um canto uma mesa com um livro sobre ela. Espreito o livro. O título “Aproxima-se o fim” põe-me ainda mais ansiosa. Abro o livro. Só tem texto. É um livro religioso. Descanso a fronte, aliviada.
Continuo a olhar pela câmara e vejo uma passagem. É um pouco claustrofóbica. Mas a minha curiosidade incita-me a percorrê-la.

Mais uma porta. Desta vez já não estou a pensar no romantismo do Sec. XVIII. Estou um bocado apreensiva. Bato a esta porta e entreabre-se também. Quando espreito, apercebo-me duma pessoa que me olha sorridente.

Aquela cara não me é estranha.
Tenho um sobressalto.
Oiço-a dizer – Estava à tua espera.

Sou eu! Estou bem mais velha.

Que estranho. Emudeci completamente. Quero escutar-me e observar-me apenas.

Eu, daqui a 10 anos, sorrio; à espera que eu, há 10 anos atrás, me observe.
Eu, daqui a 10 anos, estou com ar de mãe… que horror!, compreenda-se, daquelas mães que não fazem mais nada a não ser chingar a vida aos filhos. A minha carreira? Onde está?
Eu, daqui a 10 anos, sei exactamente o que eu, há 10 anos atrás, estou a pensar. E aguardo. Sei que tenho ar de mãe galinha. Mas sei que não o sou. É só o ar. Consegui ter gosto e gozo nestes últimos 10 anos.
E eu, há 10 anos atrás, olho horrorizada para mim daqui a 10 anos, sem saber, que foi por isso mesmo que hoje, 10 anos depois, estou assim.

Eu, daqui a 10 anos, fujo, a saber perfeitamente o que se vai passar a seguir.

Eu, no presente, corro atrás de mim, daqui a 10 anos, e deixo de me ver. Mas encontro à minha frente uma escadaria que sobe e que vai ter a um jardim. Está lua cheia. A visibilidade é total. Afinal estava mesmo debaixo dum palácio do Séc. XVIII. Estes jardins fazem lembrar os jardins do Minotauro. Pelo menos é como eu os vejo, cheios de arbustos labirínticos.
Felizmente consigo voar. As minhas asas abrem-se com o calor do Luar. Assim não me perco
Vejo uma torre lá ao fundo que me chama. Vou até lá. A janela é muito lá no alto. Resolvo ir a pé. Subo as escadas, e lá em cima encontro um quarto, bem confortável. Ai que sono eu tenho, nem me tinha apercebido. Resolvo, ainda assim, espreotar bem o quarto. Foram tantas as surpresas que já tive hoje. Quero saber o que me reserva este quarto. Vejo um armário vazio. Ao lado está um cofre. Morro de curiosidade. Tento abrir a porta do cofre, mas está perra. Puxo com força. Ok. É um frigorífico, parece que adivinhavam, estou cheia de fome. Pão, queijo e leite. Que bom!

De barriga cheia, encosto-me na cama. Sem dar por ela já estou a acordar e a relembrar o sonho. Terá sido um sonho?

10º exercício - Ao sabor de Luigi Nono (1968)

5/12/2007

GREVE. GREVE. ABAIXO O REGIME!


Uh Uh! Que medo! Tenho medo.

Eles vêm aí. Vêm aí para nos matar.
Olá!
Já aí estão, ai, ui que medo. Esconde-te. Anda cá, esconde-te aqui. Aqui eles não nos vêem. Estamos no escuro. Shhh, não faças barulho. Calem-se, shiu! Não façam barulho, por favor. Eu não quero morrer. Calem-se, calem-se. Ai. Medo, medo, medo. Shiu. Acho que estou a vê-los, ó meu deus, vão-nos matar a todos. Pânico. Fujam, fujam, fujam.


JUSTIÇA, QUEREMOS JUSTIÇA.


Estou cansada. Estou cansada, já não aguento mais. O que é que foi? Deixa-me. Já vou, já vou. Mas esta gente não se cala? Assim é pior. Shhh, Shhh.

Vêm aí? Vêm aí? A sério?
Tás a rir-te de quê? Deve ter muita piada estarmos quase todos a morrer! Vamos, vamos.
Sim, sim...


ABAIXO, ABAIXO TUDO, QUEREMOS LIBERDADE.


Vamos. Ok, ok, ok.
Cuidado que eles nos ouvem. Pouco BARULHO!
Vou-me embora! Não vás. Aqui não fico, ainda nos descobrem.
Estou cansada. Uf que cansaço. Não sei como vou aguentar isto. É só fugir, é só correr, estou cansada. Quero descanso, quero paz. Viver em paz. Deixem-me, larguem-me.
Lá vêm outra vez, não vou fugir, não vou fugir mais. Ok, já vou.
ESPEREM POR MIM!
Não pode ser, tenho de confrontá-los, porque é que não o faço? porquê? porquê?
É difícil dar a vida, quero viver. Vou fugir. Vamos, vamos. Ai que estes não se calam. dói-me a cabeça, calem-se, assim não vamos conseguir. Se não nos unirmos contra eles, não vamos conseguir.
Assim não vai dar, ai ai. Sim, é isso, é isso. Vamos. Não. Calma. Vai correr tudo bem! Como sei? Não sei. Acredito. Vamos, vamos. Lá vêm eles, vamos. Fujam. Temos de nos esconder. Só assim conseguiremos. Vamos, vamos.
Sim? NÃO! LARGUEM-ME
Fugir, fugir, fugir, fugir
Ai. Quase que me apanhavam
Como irá isto acalmar?
O sino já toca.... e mais uma vez. O que será que está a acontecer? Não percebo nada. Quero saber, quero saber. Isto nunca mais acaba. Estou farta. Sim? Diz? Não percebo. Fala português, não te percebo.
O quê? O quê? O quê?
Não sei, não quero saber. Vou-me embora. Já há torturados. Isto não é para mim! Adeus

9º exercício - Ao sabor de Kraft (1985) de Magnum Lindberg

5/12/2007

Fim do mundo - lá do outro.
Quarteto para o fim do mundo, aliás!

Gulbenkian, isto faz-me lembrar a Gulbenkian. Porquê?

Ai irritação. É difícil. Tenho de esperar por melhor que assim não dá. Está alguém a bater em alguém? No quê então?
Pouca inspiração. Definitivamente hoje não é dia para isto.
A missão, agora faz-me lembrar a banda sonora da missão.
Amêndoas. hum boas! Saborosas
O gajo do clarinete toca bem
Catapum catapum. tschq tschq. tiruliruli iiiiiiiii
ok, mais?

É complicado escrever com este nervoso miudinho que a música me está a fazer, até Bela Bartok e Paul Indemith são menos dissonantes que isto.
Que raiva, que irritação. ai ai ai! Nunca mais vem o café.

Era uma vez (bora lá abstrair) um patinho chamado Quá Quá. Esse patinho era Amarelo de nascença. Agora que estava quase a ser pai, os seus filhos também iam ter o seu nome: Amarelo — que bonito nome. (Ao contrário do que achava o outro lá daquela peça.) Quá quá Amarelo II, III, IV e seguintes. Quanto mais viessem melhor.
A pata Quá quá Pinto Amarelo que era a mãe, ali estava a chocar os seus ovos à espera que nascessem os seus filhotes.
De repente veio uma ventania tão grande, tão grande que a pata quase não conseguia aguentar-se no seu ninho. Veio uma chuvada grande e a patinha Quá quá Pinto Amarelo ficou estoicamente no seu lugar, disposta a apanhar uma pneumonia para que os seus filhotes nascessem.
Lá chegou o dia. Finalmente.
O pato Quá quá Amarelo andava ansioso dum lado para o outro. Catchapum — soa o sino da igreja. Até parecia que estava a anunciar a chegada dos seus patinhos.
Todos nasceram num instante, o II, o III, o IV, o V e o VI.
Ao fim duns dias o pato Quá quá Amarelo estava a dar em louco. Aqueles patinhos não se calavam, só queriam comer comer comer e pouco dormiam, pelo menos a ele parecia que nada dormiam. Estava com a cabeça a estalar.
Um dia passa lá por casa uma amiga da pata Quá quá Pinto Amarelo. Era uma pata bem jeitosa, pensou o Quá quá Amarelo. Mas rapidamente tirou daí os seus pensamentos. Era um Pato de Família! Sim Senhor! Eh pá, mas ela era bem gira!!!
Bom... já se está a ver o que aconteceu. Não tardou muito, já andava uma grasnadeira por aquela casa e roupa de pato a voar janela fora.
Os patinhos não percebiam nada!
E lá foi o pato Quá quá Amarelo, de orgulho ferido, alugar uma casa sozinho. De orgulho ferido, porque a amiga da pata Quá quá Pinto (e que já não tinha de nome Amarelo) não quis nada com ele.
Os patinhos aproveitaram-se, claro! Ora pediam prendas à mãe, ora pediam prendas ao pai.
Vitória, vitória acabou-se a história!
Vitória sim! porque escrever, aliás... pensar com esta música a tocar já é uma vitória bem grande.

E ainda não acabou o raio da música!

Thursday, December 13, 2007

8º exercício - percurso






28/11/2007

comprida, a direito e com algumas curvas num plano pouco incinado que subia. Lá ao fundo via-se uma curva parecendo que a estrada era muito maior. esta estava ladeda de árvores e ribanceiras. Dum lado as escarpas altas - à esquerda. E do lado direito estavam as ribanceiras profundas.
Estava aborrecida porque a minha intenção era descer e a estrada só subia. Até que vi, à direita, um caminho de terra que descia uma ladeira. Entrava cada vez mais no meio das árvores, era tão cerrado que quase não se vislumbravao céu. Era tudo muito verde. Verde e castanho. e alguns tons avermelhados. Estávamos no Outono. Continuei a andar e vi um brilho, um reflexo do sol que pouco se via por ali. Era uma garrafão de vidro. que estranho, pensei eu. lá dentro estava água, provavelmente do orvalho que caia das folhas das árvores. As pessoas não são nada cuidadoss!
Continuei o meu camonho e um pouco mais à frente encontrei pendurada numa corda que estava presa a uma árvore, uma chave. daquelas de portas antigas, olhei para todos os lados, mas nada, não via nada a que aquela chave pudesse pertencer.
Continuei ainda intrigada com o que tinha acabado de encontrar. Um pouco mais à frente encontrei uma clareira. Luz, que bom. ainda era bem cedo, o sol ainda não chegara ao seu ponto mais alto, mesmo com algumas nuvens no céu era notória a diferença de luz. Embora a clareira não fosse muito grande, as árvores que estava à sua volta, também não o eram e parecia entrar mais luz por aquele buraco azul no meio do verde, a que já me tinha habituado. Continuando o meu caminho apercebi-e que as árvores iam-se tornando menos densas até que ao longe vi água, uma grande quantidade de água. Era um lago, comecei a tentar ver as margens do lago, para saber que caminho tomar e era gigante. Fiquei um bocado chateada, nunca mais chegava ao meu destino. comecei a andar para a direita e encontrei um barco, parecia abandonado, ou pelo menos muito velho. fiquei na dúvida se confiava para me meter no barco ou se continuva a pé.
Optei por não arriscar e fui a pé. comecei a ouvir um barulho que achei estranho por aquelas bandas. mas era mesmo uma galiunha. quem diria, um galináceo ali no meio de nada. devia haver uma casa por ali perto, mas não consegui ver nada.
continueu o meu caminho e realmente lá estava a casa, de onde a galinha devia ter fugido, talvez por querer que os seus ovos dessem pintos, em vez de serem estrelados pelos seus donos.
A casa era velhonha de pedra pintada de um verde já desbodato, que se confundia no meio das árvores. A porta era de madeira com uma fechadura daquelas antigas e a chaminé deitava fumo. Deviam estar a preparar o almoço. De repente lembrei-me da chave que tinha encontrado umas centenas de metros atrás. Devia ser daquela casa. mas que sítio estranho para se guardar uma chave!
Olhei para o céu e do pouco que se via, por causa das árvores e das nuvens, parecia que ia chover. Resolvi bater à porta, até já estava a ficar com fome e podia ser que me calhasse qualquer coisa.
Abriu-me a porta uma senhora com um avental daqueles de corpo inteiro, devia memso estar a fazer alguma coisa. tinah o cabelo preso atrás da cabeça num rabo de cavalo que lhe caia pelas costas abaixo. Já se viam alguns cabelos brancos, já devia ter uns 50 anos, pelo menos. Olhou-me com cara de estupefacta, claro, ali não deve aparecer ninguém.
depois de ter falado com ela e lhe mostrar os meus propósitos, deixou-me entrar para uma sala modesta, mas com a lareira acesa, já àquela hora.
Fui com ela para a cozinha. Serviu-me um chá no meio duma conversa daquelas em que não se diz nada. A cozinha era muito rústica, daquelas de casas no meio so nada.
Não me lembro muito bem o que se passou a seguir, dei por mim a fugir. A minha memória apagou as últimas horas. Sim horas, já era quase noite. Fujia, subia, fugia, subia, estava a entrar em pânico, eram só pedras e árvores a atrapalharem. de repente está preto, aparece à minha frente um muro de negritude que me deixa cega. Sinto-me a cair no chão. Sinto as pontas das pedras a entrarem como bicos afiados pela pele das minhas pernas e corpo adentro. Acabou-se.

7º exercício - (fraseologia) maximização de frases

21/11/2007

1. Os irmãos foram ao cinema.

os irmãos, que eram muito amigos, foram, na semana passada, numa noite muito escura, ver um filme de terror, ao cinema da aldeia.



2. A praia está vazia

a praia, aquela cujas ondas batem sempre forte na areia, o que provoca sulcos perigoso para as baleias que ali vão pastar, estava vazia, naquela manhã avermelhada e quente.


(não se via vivalma, naquele enclave de areia e água salgada)


3. O papel em branco caiu.

o papel, que estaria supostamente escrito, cheio de cábulas e que afinal estava em branco, caiu, desamparado no meio do chão.



4. Ontem havia nuvens.

ontem, à noite, era dia de espreitarmos pelo telescópio, na nnossa aula nocturna, claro, mas havia nuvens, o que no entanto acabou por ser engraçado, pois perdemo-nos em histórias e mais histórias, noite fora.



5. O carro passará na rua.

o carro puxado por bois mostra-se cabsdo, mas passará na mesma, na rua, para alegrar as multidões.


(a viatura será vista neste caminho)


6. Tirei o bolo do forno.

tirei, após esperar 45 intermináveis minutos, o bolo do meu novo e branquinho forno.

6º exercício - (fraseologia) minimizar frases do livo do desassossego de Bernardo Soares








































14/11/2007

1. o relógio toca às 4 da manhã.


2. viver uma vida desapaixonada, culta, à beira do tédio.


3. a quotideaneidade da vida dá-me náuseas


4. estou triste e confuso.


5. ninguém me compreende, o que me deixa triste. preciso morrer para que me entendam, é triste.


6. vou ser positivo, mandando para longe as partes negativas do dia.


7. sempre que me insurgo emotivamente, acabei por não ter razão.


8. de repente tive um clic. vou escrevê-lo.


9. deus não existe. é cada um de nós.

5º exercício - cruzamento de campos semânticos


07/11/2007

casa e ??


ramos de janelas
verde de jantar
cortiça de sótão
tronco de capoeira
seiva de chaminé
casa de banho de flores
jantar de bosta
tapetes de madeira
camas de raízes
quarto de ar
música de formigas
chaminé de adubo
estante de água
quintal das larvas


14/11/2007

pessoa e sentimentos

olhos de alegria
perna de choro
cabelo do êxtase
pelos da paixão
falo de felicidade
língua do ódio
ser de ternura
joelhos de medo
nú da paixão
coração do choro
fala do desejo
bandulho do transe
mente do ódio
miudezas da angústia
suor da ilusão


sono e livro

entrelinha de sonho
chatisse de narrador
olhos da contracapa
editora de pesadelo
(no) calor do index
desperdício de tinta
personagens da almofada
ilustração do bocejar
palavra do frio
café do tacto
copianço da insónia
chatisse do gutemberg
sonambolismo da tinta
resenha do pesadelo
índice da cama
édredon do prolongamento
escudo da ilustração
infantil de sesta
desperdício do tacto

4º exercício - protofrases - svs

07/11/2007

eu ir caneta
aquilo ser amigo
chão andar ontem
tecto ouvir isqueiro
água sentir mesa
copo tocar pessoa
nuvem ler árvore
gato escrever ouviste
portugal dançar olhar
cadeira dar sofá

3º exercício - escrita automática

31/10/2007

1. barulho, música, caos, tempo, muito, avaria, caneta, preta, branca, violeta, azul, vermelho, branco, amarelo, trabalho, computador, ecrã, monitor


2. repetição, novamente, outra vez, mais uma vez, depois, a seguir, andando, indo, longe, perto, atrás, à frente, hoje, amanhã, ontem, dias, tempo, sol, chuva, nuvens, lua, luar, solar, astros, estrelas, astronautas, foguetão, tempo

2º exercício - lembrar de 10 coisas que tenhamos visto na rua do tuatara

Dia 24/10/2007

garagens
carros
finanças
volkswagen (afinal é a mercedes)
estrada
passeio
beatas
portas de vidro
placa toponímica
portas de madeira

1º exercício - analisar manchas tipo roschard

Dia 24/10/2007
1ª prancha

- coluna vertebral
- 1 acrobata de cada lado de braços abertos em voo para o centro da página
ao contrário
- cara
- 1 rã com a cabeça dentro duma rocha indefesa (a rã)
mancha para a direita
-1 cara


2ª prancha
- coccix
- caneta de aparo
- bicho peludo
- busto reflectido na água


3ª prancha
- fonte no emio de uma floresta
- cinderela
- ponte com ramos e folhas
- cara de velha genie of the lamp
- macaco sentado