A notícia chegou um dia. A má notícia.
Mariana, vinha da escola para casa quando viu o João encostado à parede dum prédio a fumar um cigarro. Estava absorto do mundo. Estava branco, tremia que nem varas verdes. O cigarro não estava parado nem um segundo, tal era a tremideira dos seus dedos. A mão esquerda estava aconchegada entre o antebraço direito e o peito.
Mariana franziu o sobrolho ao ver aquela imagem. Não augurava nada de bom. Aproximou-se do marido que nem se apercebeu que ela ali estava. Francamente preocupada, Mariana estava mesmo em frente, cara a cara com o marido e este teimava em não a ver. Pousou a mão no seu ombro e João finalmente sai do seu estado de transe e realiza quem está à sua frente. Olha para o amor da sua vida e num repente agarra-se a ela soluçando incontrolavelmente toda a amargura que lhe estava na alma.
Mariana ficou desorientada. Se alguma vez na vida ficou sem saber o que fazer, foi nesta ocasião. Tudo lhe passou pela cabeça, enquanto aguentava os soluços do seu marido de encontro ao seu ombro. Perdera o emprego? tinha-a enganado e estava arrependido? Mariana não sabia o que pensar e tentava preparar-se mentalmente para o pior.
Com algum esforço consegue afastá-lo, o suficiente para olhar para a sua cara. Pergunta-lhe “o que se passa?”
João olha para ela, tenta acalmar-se, atira fora a beata do cigarro que tinha estado a queimar nos seus dedos, leva a mão ao bolso de trás das calças e tira de lá um envelope que entrega à sua mulher, mas não espera que Mariana o abra e diz-lhe à velocidade duma bala: tenho uma semana de vida, é o que dizem estas análises.
Mariana olha para o João, tenta vê-lo, mas uma névoa cobre-lhe a vista. Sente as pernas a tremerem e a ficarem sem forças para a suster. Sente o chão a bater na sua cabeça, mais nada.
João não reage. Deixa-se cair ao lado da mulher e ali ficam os dois perdidos na vida, deitados no chão duma rua onde ninguém os conhece.
17Março2008