Acordei. Abri os olhos. Pisquei-os. Pisquei-os mais uma vez. Não vejo nada. Estou cega.
Entro em pânico e começo a apalpar tudo o que me rodeia. Por baixo de mim está um colchão muito fino. Parece feito de palha. Está forrado com um tecido fino que deixa sentir o interior. Apercebo-me que não estou no meu quarto. Sinto o coração a bater no peito, forte como as badalados dum sino da igreja mesmo ao meu lado, toda eu estremeço. A única coisa que oiço é o meu coração.
Acalmo-me, ou tento acalmar-me e raciocinar. A minha mão, agora, percorre o colchão até a berma. Sinto, por baixo do colchão, um frio liso. Retiro logo a mão, como se algo me tivesse picado, tal foi o medo. Estou num colchão de palha, que está colocado no chão de cimento.
A minha vista já se habituou ao escuro. Vejo junto ao chão um risco branco pálido, como uma nesga de luz. Deve ser uma porta.
Encho-me de coragem. Ponho uma mão no chão, ao lado do colchão. A outra mão segue a primeira. De joelhos no chão, vou de gatas, tacteando até junto, do que deve ser, a porta.
Como vim aqui parar?
Chego perto da luz, e deixo de vê-la. Mas consigo aperceber-me que estou junto a uma porta de madeira, ornamentada e pesada. Procuro uma maçaneta, não encontro. Tenho medo de me levantar, não sei a altura do tecto, não sei o que existe por cima da minha cabeça. Não sei se estou sozinha naquele quarto. Bato na porta. Primeiro devagarinho. Como ninguém responde bato com todas as forças que tenho, mãos fechadas, mãos abertas, com os nós dos dedos. Nada.
Sento-me no chão e encosto-me à porta. Penso. Como vim aqui parar. Mais calma tento raciocinar e lembrar-me dos últimos momentos em que estive acordada. Só me lembro de me deitar. Vesti o pijama, lavei os dentes, deitei-me, agarrei no livro que tenho em cima da minha mesa de cabeceira e li-o. Não me lembro de mais nada.
De repente tenho um sobressalto. O meu coração volta a bater muito muito forte. Quase nem consigo perceber o que estou a pensar. Aquilo que acabei de me aperceber.
Estou dentro do livro de terror que lia ontem na cama. É em tudo idêntico. Um quarto escuro, fechado, sem janelas, um colchão no chão de cimento frio e liso. Como saio daqui? Pensa, pensa, o que fez a personagem? Não me lembro, adormeci.
Maria, vais chegar atrasada à escola — oiço uma voz. Hoje tens teste de Literatura, não queres faltar, pois não?
Abri os olhos. Luz. Sol. Vida. Era um sonho.
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