"O meu TRAQUIGÁS (transformador químico de gás metano), mais conhecido entre amigos por “TRAQ”, avariou-se. Que chatice. Vou passar o dia cheio de cólicas. Sem o TRAQ, o sistema de aquecimento/arrefecimento dos fatos que vestimos não funciona, portanto vou passar frio. Pior, vou passar o dia a ver o olhar compadecido dos outros. Vou ter que ir a pé, porque não é permitido andar de transportes públicos sem o TRAQ. Tenho de mandar arranjá-lo urgentemente. Esperam-me dias difíceis até que o TRAQ esteja arranjado. Sem ele, o cheiro que exalamos com os nossos gazes, é tão nauseabundo que, em grandes concentrações, mata por intoxicação. É desta alimentação que fazemos. Devíamos voltar a lavrar a terra, em vez de consumirmos alimentos reciclados.
Estamos em Março, pleno inverno e ainda faltam 9 meses para a primavera. Não sei porque a UEE, a União dos Estados Europeus achou melhor termos uma estação por ano. Mas ainda bem que hoje não chove, pois não vou ter remédio, senão ir a pé para o trabalho. Tenho de ir trabalhar, como todos os comuns mortais e imortais. Aliás, se quiser adquirir o estatuto de imortal vou ter mesmo de trabalhar bastante, pois só os mais produtivos conseguem essa regalia. Por falar nisso, eu devia trabalhar este fim-de-semana que vem. Se há coisa que não entendo é esta insistência em manter os comboios em funcionamento, com tanta tecnologia que há hoje em dia... Ok, ok, eu sei. Foi o embargo da UEE à tecnologia de ponta no Estado de Portugal, por nos termos recusado, anos a fio, a respeitar as regras relativas à energia verde, imposta pela Comissão do Estados Europeus. Bom, o que sei, é que vou perder um fim-de-semana importante para a promoção a imortal. Se tivéssemos a Tecnologia de Transportes Imediatos que há no nosso Estado vizinho de Francospania, perdia só umas horas.
O que me consola, é que quando chegar à ilha da Pérola-Madeira vou refugiar-me na Realidade Virtual do “Campo no litoral”. Aquilo é que é bom, ouvir o chilrear dos passarinhos, sentir o vento com cheiro a maresia na cara, ver as ondas revoltas a chocarem contra as rochas. Ainda bem que as várias Realidades Virtuais não estão espalhadas, temos de nos deslocar para conhecermos as realidades locais. É uma maneira de não perdermos a identidade do nosso Estado de Portugal, o antigo “país à beira mar plantado”. Sim, ainda temos mar, bastante até. Quando chega o verão, como dura um ano inteiro, o nível do mar sobe até a antiga cidade de Viseu. Portanto, quem conheça o Estado consegue perceber que quase metade dele fica debaixo de água. O que nos salva são as cúpulas citadinas. A nossa capital Estatal passou da antiga Lisboa para Portuguarda, a cidade anteriormente chamada de Guarda. Não podíamos ter uma capital isolada pelo mar e sem comunicações viárias de 4 em 4 anos.
Bem, acabou-se o tempo para pensar. Cheguei ao trabalho."
Esta foi uma das gravações de memória encontradas nas escavações arqueológicas no fundo do Oceano Maior. Estas escavações estão a ajudar-nos a encontrar informação perdida há milhares de anos e a perceber o que aconteceu ao nosso planeta nos últimos milénios. O que sabemos é que na chamada Era do Grande Degelo, quando a última grande calota do Pólo Sul derreteu, o nosso planeta ficou reduzido a pequenos espaços terrestres. Tudo o resto ficou água salgada.
continua
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